A beleza da consciência não costuma se mostrar no clarão das luzes que
brotam do calor dos acontecimentos.
Assim como os olhos exigem alguma proteção para olhar diretamente em
direção ao sol, nossa razão pede a proteção do tempo para poder contemplar com
serenidade a verdade em todo o seu esplendor.
É preciso distanciar-se dos fatos, das experiências vividas, para
finalmente poder-se contemplar a beleza da verdade.
O tempo é o único colírio capaz de limpar os olhos da nossa razão, com
os quais realmente enxergamos.
É mister despir-se das ilusões, miragens que não ocorrem apenas para os
perdidos nos desertos de areia.
É essencial livrar-se dos falsos valores que levam a julgamentos
igualmente falsos; abandonar tolas crendices filhas da angústia e do medo do
desconhecido.
Existe ainda o perigo do deslumbre que cega a mente e ilude nossa
capacidade de julgar; a vaidade tola e a megalomania, caminhos que levam a
bezerros de ouro, à paixão pela conquista do poder pelo poder, ou como forma de
submeter o próximo.
Nossos olhos, muitas vezes, emprestam lentes de narciso, capazes de
distorcer nossa real imagem e os julgamentos que fazemos dos nossos atos.
Só o tempo permite àqueles que dele fazem bom uso, cultivando o saber e
examinando a vida em profundidade, perceber as coisas realmente importantes e
belas.
Nós humanos, como as flores, os pássaros e tudo que é vivo, temos um
ciclo que se inicia com o nascimento, prossegue com o florescer da maturidade e
termina com a morte.
Morremos todos, sem a beleza ou o vigor físico; de nada adiantam nossas conquistas terrestres, todas são fugazes.
Morremos todos, sem a beleza ou o vigor físico; de nada adiantam nossas conquistas terrestres, todas são fugazes.
Se algo for eterno, será apenas a consciência que adquirimos neste viver.
Esse enorme mistério da vida e da morte é o mais tranqüilo, límpido e
belo espetáculo ao qual nenhum outro se compara, mas que só pode ser observado
e compreendido com o tempo, com o passar do tempo; esse é um privilégio
reservado aos que usaram bem seu tempo de vida.
É contraditório, mas é preciso morrer para se entender e vislumbrar toda
a beleza da vida.
Daí, talvez, a sabedoria popular do velho ditado que diz:
“Neste mundo, quem mais olha menos vê, quem não morre não vê Cristo”.
“Neste mundo, quem mais olha menos vê, quem não morre não vê Cristo”.
Acredito que, no ditado popular, a palavra cristo significa “ter
consciência do processo da vida”.
Se fôssemos capazes de menores ilusões e maior consciência, certamente
seríamos muito mais felizes.
Teríamos maior prazer no trabalho, trataríamos o próximo com mais amor e
respeito; seríamos mesmo capazes de amá-lo, não por nossos interesses, mas sim
por ele mesmo.
Não teríamos a maioria das nossas preocupações, dormiríamos melhor,
administraríamos melhor nossas energias e não permitiríamos que tolas fantasias
e angústias desnecessárias se apossassem de nosso ser.
Viveríamos em paz, teríamos mais tempo para as crianças, as flores e os
pássaros.
Não necessitaríamos do consumo de drogas ou de bens supérfluos,
usaríamos nosso tempo e nossa energia para coisas muito mais prazerosas; pensar
e examinar a vida, livrar-nos de falsos valores, fantasias e miragens,
encontrar a essência da vida, ver com os olhos da alma.
Pense nisso!
Apague as luzes, dilate as pupilas da alma, e veja.
*
Redação do Momento Espírita.
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Redação do Momento Espírita.