domingo, 1 de setembro de 2013

Da árvore que matou o Juiz, reflexões sobre a vida-Por Julio Prates



 Houve uma época em minha vida que curti intensamente a leitura de Albert Camus, escritor franco-argelino, filósofo, que sempre impressionou-me pelas conclusões acerca do absurdo da vida e também pela apologia que fazia ao suicídio: “Existe apenas um único problema filosófico realmente sério: o suicídio. Julgar se a vida vale ou não a pena ser vivida significa responder à questão fundamental da filosofia”. Durante muitos anos fui leitor assíduo de Camus e admirador de suas obras. Contudo, com o passar do tempo, com minha tentativa de voltar a ser um ser normal, fui abandonando o pensamento camusiano, sem, contudo, abandoná-lo totalmente. 
  
Geralmente, aos domingos, tenho crises niilitas, especialmente se meus pensamentos são fomentados por algum fato absurdo e a morte absurda desse magistrado, segundo todos dizem, uma pessoa dócil, amável e bondosa, fomentou à reflexão de minha alma.

Macbeth de Shakespeare faz uma apologia radical de menosprezo à vida e revela o absurdo  da existência:“Apaga, apaga, vela breve! A vida é só uma sombra móvel. Pobre ator Que freme e treme o seu papel no palco E logo sai de cena. Um conto tonto Dito por um idiota, cheio de som e fúria, significando nada”.

O dia em que o Edegar Dalosto morreu com aquele desastre fatal da peça que se soltou da Scania e foi direto a sua cabeça, passei dias, introspectivo, tentando entender o mistério daquele absurdo. É claro que não vou nunca encontrar uma resposta, senão no próprio absurdo, daí porque, volta e meio, vejo-me mergulhado nas reflexões afins. 

Hoje cedo, ao ler o site do Tribunal Regional do Trabalho da 4ª Região, que informava o falecimento do juiz do Trabalho Lenir Heinen, titular da 7ª Vara do Trabalho de Porto Alegre, vítima de uma árvore que caiu sobre seu corpo e tirou-lhe a vida, mais uma vez tive um daqueles mergulhos terríveis, pois fiquei pensando durante horas: como é que pode um absurdo assim tão grande, tão evidente, tão aviltante?

Por que essa árvore foi cair ali, justo naquele momento, sem sinais formais de ventos, sem a influência de uma causa exterior aparente e ceifar uma vida na plenitude de seus sonhos? 

Duvido que encontremos respostas racionais nesse evento. É claro, divagamos todos: é a hora e pronto, quando a chega nossa hora ninguém pode impedir...

Esse é um típico caso que desafia nossa imaginação;  gostaria de ser espírita, pois não sofreria tanto, especialmente diante dos desafios afetos a morte, em especial, desses eventos trágicos e que questionam nossa razão. 

Terça-feira dessa semana, um amigo que eu apreendi a gostar muito, o Giovani Diedrich, ligou-me, deu voltas nos assuntos e – finalmente – revelou-me que sonhou que eu estava morto num necrotério e, cauteloso, pediu-me para eu cuidar-me. 

Nossos sonhos são eivados de reflexões e simbologias. Certamente alguma razão assiste à lógica do meu prezado amigo.  Certamente, alguma comunicação mental, em algum nível subjetivo, houve.

Não sei se sou diferente das demais pessoas, mas a idéia objetiva de morte não me assusta; assusta-me a falta de respostas; creio que minha passagem e a separação do meu corpo físico de minha alma será tranqüila (imagino eu). Talvez eu esteja enganado. Não quisera acreditar tanto no breu.

A simbologia da morte nos sonhos, a rigor, pode ter outras significâncias. Pode ser até progresso da vida da pessoa como também pode ser uma ruptura. 
Ruptura, sim, seja no plano espiritual, seja no plano material, creio que assiste razão ao sonho do meu amigo.  Já passei por rupturas, já perdi amigos e amigas, já perdi meus pais, já perdi sensações dos lugares por onde passei e que um dia amei, já perdi amizades que prezava muito, já perdi pessoas pelas quais nutri sentimentos de afeições e carinho; sei o que é a dor da perda, da sensação de separação, do deixar para trás, do ir avante e do tatear incerto nas vazias madrugadas de nossas vidas. 

A ruptura não ter cor, tem a sensação de perda, de incertezas, de um passo no escuro sentimental em direção ao vazio de um abismo que se avizinha. 

Vejamos, por fim, a extensão dessa reflexão de Helmut Thielicke: "O niilismo assegura com todas as letras tem apenas uma verdade para declarar, qual seja, que em última instância, o nada prevalece e o mundo é sem sentido." 

Poderia ser diferente? 

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