Para
se compreender o significado do Vodu, é preciso fazer uma distinção
entre a religião e a prática de magia negra conhecida pelo mesmo
nome. Na verdade, os famosos bonecos espetados com agulhas não têm
relação com a doutrina religiosa que teve origem em Daomé,
atual República do Benim, na África ocidental, e se popularizou
no Haiti.
"A feitiçaria é um desvio da religião. Esse tipo de
bruxaria com o uso de imagens não pertence ao Vodu original, sendo praticada
por seguidores de todas as crenças", afirma o sociólogo Reginaldo
Prandi, da Universidade de São Paulo. "Chamar esses bonecos de Vodu
é o mesmo que dizer que Candomblé e Umbanda são a mesma
coisa que macumba."
Embora
seja impossível definir quando o culto se originou, o certo é
que sua marginalização teve início nos Estados Unidos.
Por meio do cinema e da literatura, os americanos propagaram a associação
do Vodu com a magia negra como artifício para justificar a colonização
do Haiti nas primeiras décadas do século 20.
Já
no que se refere aos bonecos vodus, os primeiros vestígios deles datam
de 2500 a.c., no Egito. "Há lendas sobre um escriba que, ao descobrir
a traição da esposa, preparou um crocodilo de cera e fez um feitiço
para que o amante fosse engolido pelo animal. Verdade ou não, a história
indica o uso de miniaturas em sortilégios já naquela época",
diz o historiador Julio Gralha, do Núcleo de Estudos da Antiguidade da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj).
A
Grécia também registra o uso de pequenas figuras em feitiçarias.
Por volta de 431 a.c., em plena Guerra do Peloponeso, utilizavam-se bonecos
de cera ou chumbo em ritos nos cemitérios de Atenas. "Os vodus na
Grécia são resultado da proximidade com os estrangeiros e de uma
mudança de pensamento em relação à morte, devido
à guerra", afirma Maria Regina Candido, historiadora da Uerj.
Seja
como for, em ambas as culturas a prática de magia negra era condenada,
assim como o Vodu a proíbe hoje. "Quando é praticada, tudo
é feito às escondidas. A punição pode ser até
a pena de morte", diz Reginaldo. As cerimônias religiosas do Vodu
são parecidas com as do Candomblé, a começar pelo culto
aos antepassados.
Muitas
vezes, as entidades - conhecidas como loas - são parentes mortos. "Para
que a sociedade vá bem, deve-se seguir alguns rituais, como o sacrifício
de animais para oferecer aos loas", diz o antropólogo Sérgio
Ferreti, da Universidade Federal do Maranhão. Regadas a música,
dança e muita comida, as cerimônias servem de palco para a invocação
das divindades por meio do transe.
O
culto chegou à América trazido pelos escravos e, para sobreviver,
incorporou elementos da cultura dos dominadores, como o batismo católico.
Apesar de concentrar-se no Haiti, a crença não tem uma pátria
definida. Como se adapta aos costumes locais e, freqüentemente, muda de
nome, é difícil especificar onde é praticada hoje.
No
Brasil, o Vodu tem características próprias, de acordo com a região
em que se estabeleceu. Por exemplo, enquanto, na Bahia, chama-se Candomblé
Jeje, no Maranhão e Amazonas, foi batizado como Tambor de Mina. De qualquer
forma, a religião influenciou a cultura brasileira. Festas populares
de caráter profano, como o bumba-meu-boi, por exemplo, estão associadas
ao Tambor de Mina, ou seja, ao Vodu.
Surgida
na África, a religião Vodu não tem nada a ver com a prática
de magia negra
por meio de bonecos, que ficou conhecida pelo mesmo nome.
por meio de bonecos, que ficou conhecida pelo mesmo nome.
Ana
Paula Lima - Revista das Religiões