Durante a Revolução Francesa, a
Comissão de Segurança Pública deu permissão para utilização de um castelo nos
arredores de Paris como um curtume a fim de processar couro de pele dos corpos
de pessoas executadas pela guilhotina. Na época, um grande número de
cavalheiros usavam calças e botas da moda produzidas a partir da matéria-prima
(pele humana) considerada flexível e de alta qualidade.
Faziam-se também coletes durante esse reinado do terror na França do século XVIII. À época, Saint-Just cresceu para se tornar um líder político e bárbaro comandante militar. Há uma história de que Saint-Just estava fazendo umas investidas em uma bela mulher, mas teria sido completamente desprezado. Em um dia de fúria, ele prendeu e matou a dama, sendo sua pele removida por um cirurgião, curtida e transformada em um colete da moda, que ele usava todos os dias.
Recentemente, cientistas da
universidade de Harvard, nos Estados Unidos, confirmaram por meio de análises
que o livro "Des destinées de l'ame", do escritor francês Arsène
Houssaye, foi encadernado com pele humana pelo médico Ludovic Bouland. (1) O
livro faz parte do acervo da biblioteca Houghton, dessa universidade. Entre
três títulos testados, esse foi o único livro feito com a técnica conhecida
como bibliopegia antropodérmica (encadernamento com pele humana). (2)
Caso semelhante está presente na
coleção da biblioteca Athenaeum, de Boston, onde se encontra um livro
intitulado Hic Liber Waltonis Cute Est Compactus, encadernado com a pele de
George Walton, um famoso assaltante do século XIX que morreu de tuberculose na
prisão em 1837. George pediu que, após sua morte, sua pele fosse utilizada para
encapar um volume de sua autobiografia, que seria apresentada a John Fenno,
ex-vítima de roubo que teria bravamente sobrevivido após ter sido baleado. O
livro permaneceu com a família de Fenno até ser doado à biblioteca.
Ante tais estranhas ocorrências, somos
convidados a elucubrar sobre a linha limítrofe entre a racionalidade e a
moralidade humana. Atualmente discorre-se bastante sobre o progresso social
adquirido; contudo, o que se entende por progresso? Pode algumas vezes soar
como um vocábulo vazio que reverbera nas barbaridades descritas acima.
Entretanto, há 40 anos o homem pisou
na Lua, dando início a eventos posteriores que evidenciaram o progresso da
Ciência, no campo das descobertas espaciais. Porém, há que se observar o atraso
moral do homem na Terra, apesar de todo o progresso científico-material
realizado. Sabemos que o progresso material caminha na frente, ao passo que o
crescimento moral vai sempre marchando em segundo plano.
Raciocinemos um pouco mais sobre isso.
Elucida a Doutrina dos Espíritos que em delicado “dégradée” evolutivo o homem
vai gradualmente vivenciando suas experiências nos diversos graus de
desenvolvimento. Ante as diretrizes da Lei de Evolução, o “homem passa palmo a
palmo da barbárie à civilização moral”. (3) Explicam os Espíritos que “o senso
moral, mesmo quando não está desenvolvido, não está ausente, porque existe, em
princípio, em todos os homens; é esse senso moral que os transforma mais tarde
em seres bons e humanos. Ele existe no selvagem como o princípio do aroma no
botão de rosa de uma flor que ainda não se abriu”. (5)
Estamos constantemente diante dos
paradoxos existenciais. Como compreender a experiência de criaturas bestiais,
quase selvagens, no seio de seres ditos civilizados? “Da mesma maneira que numa
árvore carregada de bons frutos existem temporãos. Elas são selvagens que só
têm da civilização a aparência, lobos extraviados em meio de cordeiros. Os
Espíritos de uma ordem inferior, muito atrasados, podem encarnar-se entre
homens adiantados com a esperança de também se adiantarem; mas, se a prova for
muito pesada, a natureza primitiva reage”. (5)
Este é um entendimento coerente,
quando compreendemos a bênção da reencarnação. Como se observa na elucidação
dos Luminares do além: “A Humanidade progride. Esses homens dominados pelo
instinto do mal, que se encontram deslocados entre os homens de bem,
desaparecerão pouco a pouco como o mau grão é separado do bom quando joeirado.
Mas renascerão com outro invólucro. Então, com mais experiência, compreenderão
melhor o bem e o mal. O exemplo temos nas plantas e nos animais que o homem
aprendeu como aperfeiçoar, desenvolvendo-lhes qualidades novas. Só após muitas
gerações que o aperfeiçoamento se torna mais completo. Esta é a imagem das
diversas existências do homem”. (6)
É dessa forma que evoluímos – lentamente, renascendo e (re)morrendo nos
diversos estágios dos mundos, consoante categorização proposta pelo lente
lionês, designando-os de mundos “primitivos”, de “expiação e provas”
(atualmente na Terra), de “regeneração”, “ditosos e divinos” até chegarmos,
após milênios, ao mundo dos venturosos, onde tão-somente impera o bem e tudo é
movido por anseios sublimes e todos os sentimentos são depurados.Jorge Hessen
Notas e referências bibliográficas:
(1) No livro há uma dedicatória manuscrita por Ludovic Bouland, afirmando que a pele de uma mulher com problemas mentais, morta por um derrame, havia sido usada na capa.
(2) Disponível em http://noticias.uol.com.br/internacional/ultimas-noticias/2014/06/0...