Anne Leitrim, uma inglesa de 70 anos de idade, residia sozinha em
Bournemouth, no sul da Inglaterra, e foi encontrada morta no quarto do seu
apartamento (após seis anos). Os vizinhos supunham que ela tinha se mudado e a
família (pasmem!) não sentiu sua ausência durante todo esse tempo. Diante do
caso, o servidor Cliff Rich, membro da organização Contact the Elderly,
instituição filantrópica de apoio a idosos, alegou que muitos anciães são
praticamente “invisíveis” para o resto da sociedade inglesa.
Observemos que estamos diante da sociedade mais conservadora da Terra, tida como de “primeiro mundo”, onde se apregoa muito a importância do “bem-estar” dos idosos. “No Brasil, alguns sociólogos afirmam que, se um país como o nosso precisa de um "estatuto dos idosos" (ou seja, de uma lei), para lembrar a respeitabilidade deles, isso indica que algo está muito errado com a sociedade.”. 2
Certo dia escutei
um cidadão (brasileiro) na fila do cartório, esbravejando que o direito do
idoso era uma incoerência, um exagero. Revoltado, arrazoava: “vamos ao banco,
ao cinema, em qualquer fila, até as de emergência, e aquele montão de pessoas
passa na nossa frente se dizendo “preferencial”. Quem é idoso? A pessoa às
vezes nem tem 60 anos, anda de sapato esportivo (tênis), usa óculos Ray Ban,
está magnificamente arrumada, mulheres maquiadíssimas, homens arremessando
glamour e dizem "sou idoso". E lá ficamos nós, otários, para trás.
Acho que há muita indolência. Até office velho os escritórios arrumaram...
Empréstimos, décimo-terceiro antecipado, medicamentos e trabalho? Tudo é para
eles, e nós, que estamos na idade adulta e necessitada, o que sobra para nós? O
governo devia pensar em todos, mesmo porque ser idoso não é ser minoria".
Sem entrar em
disputa com tal indignado cidadão, cabe-lhe recordar que não se pode
generalizar jamais numa circunstância dessas. O processo envelhecer demanda uma
atenção especial em virtude das modificações biológicas, psicológicas e
sociais, sendo necessária uma maior atenção por parte da sociedade e formulação
e efetivação de políticas públicas voltadas para o idoso. Em muitas culturas e
civilizações, principalmente as orientais, o idoso é visto com respeito e
veneração, representando uma fonte de experiência, do valioso saber acumulado
ao longo dos anos, da prudência e da reflexão, enquanto em outras o idoso
representa "o velho", "o ultrapassado" e "a falência
múltipla do potencial do ser humano" – é lamentável!
A História mostra
que o envelhecimento do corpo de muitos anciãos não se processou em paralelo,
para quem soube cultivar o Espírito. A idade cronológica não representou
barreiras para Giuseppe Verdi, compositor italiano, que aos sessenta anos
compôs "Aída"; com mais de setenta e quatro, "Otelo", e aos
oitenta e quatro completa três imorredouras páginas religiosas: "Ave
Maria", "Stabat Mater" e "Te Deum". Pablo Picasso, o
genial pintor espanhol, aos noventa e um anos, cria; Winston Leonard Spencer
Churchill, septuagenário, foi a alma da resistência na Segunda Grande Guerra, e
morre aos noventa e um anos em plena contribuição social.
Que falar ainda de
Albert Einsten, Thomas Edison, Albert Schweitzer, Louis Pasteur, Alexander
Fleming, Konrad Hermann Joseph Adenauer, Bertrand Russell, espíritos altamente
produtivos aos setenta, oitenta, noventa anos de idade física, que não se
entregando à vida contemplativa, permanecem vivos até hoje, quando pelos
efeitos de suas descobertas, invenções, ideias e ideais se mantiveram
produtivos, interessados, interessantes e atuantes, apesar, do envelhecimento
físico.
Cremos que a
decrepitude deveria ser encarada como venturosa pelo que contém de
gratificante, mormente por causa das longas refregas das buscas e das
realizações. Envelhecer é uma arte e uma ciência, se buscarmos rejuvenescer
nossa alma. Há idosos que conquistaram a longevidade de forma sadia e feliz,
contudo muitos estão largados nos asilos da vida, amargando suas enfermidades
no isolamento. Há os que aceitam sua decrepitude sem rezingar e sem exigir nada
dos outros; todavia igualmente indiferentes não oferecem nada a ninguém.
Dizem que a idade
avançada é a noite da Vida, entretanto, a noite pode ser bela, clara, toda
ornamentada de estrelas e constelações, luar e claridade a se esparzirem de uma
longa vida cheia de virtude, bondade e honra! O entendimento espírita vê a
idade avançada como o outono no tempo, fase normal, necessária, imprescindível
na sucessão harmônica dos objetivos e funções da encarnação, envolta, igual a
todas as outras, nos dons da Natureza, nas bênçãos de Deus.
Jorge Hessen
http://www.forumespirita.
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