Um burro, carregando a estátua de um santo e outras relíquias, caminhava pelas ruas da cidade. E por onde ele passava as pessoas entoavam hinos e queimavam incensos. Paravam para vê-lo e fixavam em sua direção olhares de admiração. Alguns até se ajoelhavam.
Imaginando que todas as honrarias eram para ele, o burro, cheio de orgulho, marchava soberbamente diante do povo. E até fazia paradas estratégicas quando percebia que a multidão exultava.
Alguém que por ali passava, observando a pose do animal, adivinha o que lhe passa na cabeça e diz:
- Não sejas tolo, ó burro insano! Deixa de lado essa presunção! És pobre de cabeça? Não vês que as homenagens e as preces dos suplicantes são para o santo que carregas, e não para ti?
Quantos burros se imaginam adorados pelos homens?
Quantos magistrados que nada sabem são aplaudidos pela imponência da toga !
Todos aqueles que não conquistaram valor próprio ficam "sem asas para voar". Os homens modestos legitimam suas habilidades e competências e sabem usá-las com farta generosidade, porque possuem autoconsciência das suas virtudes inatas. Já o vaidoso é inconsciente de seu potencial e busca conquistá-lo exteriormente, em vez de desenvolvê-la na própria intimidade.
Hammed