Um dos grandes obstáculos ao progresso
humano está na preguiça mental. O homem prefere receber as informações
“mastigadas” pela mídia ao invés de dedicar-se ao estudo que exige o
raciocínio. A TV ainda impera sobre o livro.
Sabendo disso, muitos mestres, em todos
os tempos, utilizam o recurso de contar estórias ou histórias para transmitir o
ensinamento que se propõem a divulgar. E para prender a atenção do público a
que se destina toda mensagem são revestida das mais variadas recursos que
atraem.
Assim a TV, o rádio, o vídeo, o teatro.
Muitas vezes o conteúdo não é bom, mas a embalagem atrai e prende a atenção. E
engana como ocorre com a publicidade do cigarro, por exemplo...
E os espíritas, como ficamos? Temos uma
maravilhosa mensagem, toda ela voltada para o crescimento do ser humano.
Precisamos, sem dúvida, utilizar todos os modernos meios de comunicação para
transmitir essa mensagem ao grande público. Os recursos tecnológicos da
atualidade, como microfone, telão, vídeo, retroprojetor, projetor de slides,
som, computador e outros facilitam muito a divulgação das idéias espíritas.
Voltando ao início de nosso pensamento,
verificamos que o recurso de contar estórias ou histórias facilita e muito à
transmissão da divulgação doutrinária. Não é por acaso que renomados autores
encarnados e desencarnados usam a forma romanceada, e nem foi por outra razão
que Jesus também usou as parábolas para ensinar. Este recurso realmente
consegue transmitir o ensinamento com muita objetividade, facilita a
memorização do ensinamento, prende a atenção. Na tribuna, por exemplo, ele tem
um efeito excelente, principalmente se descontraído.
Mas, analisemos uma parábola de Jesus:
A Parábola dos Dois Filhos. Em breve resumo, a parábola indica um Pai e dois
filhos, convidados para trabalharem na vinha do Pai. O primeiro promete ir, mas
não vai. Já o segundo filho, rebela-se dizendo que não vai, arrepende-se depois
e acaba indo. À luz da Doutrina Espírita, podemos extrair o ensinamento da
parábola. O texto em si é a embalagem que precisamos desembrulhar para conhecer
o conteúdo e dele extrair o ensinamento. Também em breve resumo, podemos
concluir que o Pai da parábola é Deus. Os filhos somos todos nós, detentores do
livre-arbítrio, com a liberdade de opção de trabalhar ou não na seara do Pai.
Seara é todo o campo de trabalho que Deus nos oferece.
Observemos que o Pai não impõe
condições, nem reprova o comportamento. Respeita a liberdade dos filhos. Com o
texto embalado pela estória, podem-se extrair muitos ensinamentos, em conteúdo
e grande profundidade.
A parábola é um convite para sairmos da
ociosidade, é um apelo ao trabalho em favor de um mundo melhor, porém a decisão
é de cada um. Há muito que se fazer em favor uns dos outros, nos variados
campos da atividade humana, mas também e principalmente no uso da caridade e do
amor...
Já a assimilação do ensinamento só por
palavras é como o filho que diz que vai e não vai, fica adiando sua
transformação no bem ou o trabalho em favor do semelhante. Como diz a parábola,
não é preferível o filho às vezes indisciplinado, mas que toma depois a decisão
de se melhorar e trabalhar na vinha do Senhor? No pequeno exemplo da parábola
referida está à embalagem a ser aberta e no seu interior a pérola do
ensinamento. Libertemo-nos, pois, da preguiça mental e mergulhemos no
raciocínio a fim de extrair da Doutrina Espírita, com sua extensa e variada
literatura, as luzes do Evangelho de Jesus, a fim de não sermos os indecisos
como cristãos de aparência que dizem, mas não fazem que adiem o progresso...
E para os que preferem a acomodação
mental, continuemos a utilizar o recurso das estórias e histórias, a fim de
fixar com mais facilidade a divulgação das idéias de Jesus e dos ideais de
nossa querida Doutrina.
Para concluir, contudo, e considerando
os valores libertadores trazidos pela Doutrina Espírita em favor do homem,
trago aos leitores transcrição parcial do capítulo A Conclusão da Pesquisa,
pelo Espírito Ignácio Bittencourt **, onde o autor, ao referir-se a minuciosa
pesquisa levada a efeito nas Esperas Superiores, na qual os Excelsos Dirigentes
do Espiritismo “chegaram à conclusão de que, junto às calamitosas quedas morais
e às deserções deploráveis de numerosos companheiros responsáveis pelo serviço
libertador, entre todas as causas que dificultam a marcha da Nova Revelação na
Terra, destaca-se, em posição de espetacular e doloroso relevo, a preguiça
mental”.
Orson Peter Carrara
REFORMADOR, NOVEMBRO, 1997