Estamos
transformando a polícia em uma instituição de covardes. Hoje, poucos policiais
têm o ímpeto de agir imediatamente diante de uma injustiça ou de uma situação
delituosa. Poucos têm a vontade de investigar e se expor às ruas e a seus
conflitos, poucos têm a inconsequência de ir, quando a prudência normal e comum
recomendam não ir.
A polícia não é uma profissão de certezas, de escolhas fáceis e certas,
de ausência de riscos, de legalidades simples dos bancos acadêmicos. Polícia é
risco e incerteza 24 horas do dia. Não existe a possibilidade de esperar um
criminoso sacar a arma e apontá-la para você antes de você decidir atirar. Não
se pode pedir sempre um mandado de busca para entrar em uma casa. Não existe
sempre situações claras de risco e de flagrante delito que lhe permitam saber
100% do sucesso de suas escolhas e suas ações. Nas ruas é sacar a arma antes e
atirar, entrar sem pensar para surpreender e não ser surpreendido. A polícia
não é uma profissão de certezas e legalismo acadêmico. Não podemos transformar
nossos policiais em pessoas acuadas e com medo de agir, com medo de responder
por crimes, por abusos, por excessos.
Claro que não se
pode permitir tudo, autorizar desmandos, torturas, abusos de autoridade. Mas
não se pode exigir certezas e antecipações que os imprevistos das ruas não
permitem. Não podemos colocar nossos policiais em uma situação de desconfiança
prévia em relação aos seus atos que os imobilizem, não podemos exigir garantias
que não podemos dar aos nossos policiais. Prejulgando ações policiais como de
má-fé, transformamos nossos protetores em covardes que têm medo da decisão, que
preferem não sair às ruas para investigar e prender. Hoje na polícia é mais
cômodo não fazer nada, pois aí você evita os riscos das decisões incertas e os
procedimentos que delas advém. Ocorre que isso é o fim da polícia, de nossos
cães pastores, de nossos protetores.
Desgastes,
equívocos e erros sempre existirão na atividade policial; mas nenhum erro será
maior para a sociedade do que transformar a polícia em um lugar de covardes
burocratas, que se escondem atrás de procedimentos e regras acabadas que não
resolvem o imediatismo do pavor de um crime acontecendo.
Precisamos de
policiais um pouco inconsequentes – pois ninguém em um raciocínio lógico e
normal vai enfrentar criminosos que não tem nada a perder ou a ganhar - que não
tenham medo da morte, que anseiem pelo confronto, que tenham coragem de ir
quando a prudência mandar não ir. Não existe o discurso do herói, do fazer o
bem para a sociedade, do transformar o mundo em lugar melhor quando apontam uma
arma para você. Ninguém vai pra rua quando o confronto é iminente e a derrota
certa, seja morrendo ou voltando vivo para casa. Logo nossa polícia será
formada apenas por covardes. Logo o caos habitará entre nós.
Delegado RAFAEL
VIANNA