Fonte: sabias
palavras
👤Rogério Machado
Como um acidente pode explicar o comportamento humano
O Brasil ficou chocado nos últimos dias de julho quando um garoto de 11
anos teve o braço direito dilacerado por um tigre. O “acidente” ocorreu em
um zoológico de Cascavel, PR, quando o garoto, acompanhado do pai, pulou uma
cerca de proteção, ignorou os avisos de manter-se afastado e provocou primeiro
um leão e depois o tigre. O desfecho todo mundo viu: teve o braço amputado na
altura do ombro e terá a vida inteira para refletir sobre esse ato “corajoso”.
Esse acidente é exemplar, em todos os sentidos.
Quem acompanha minhas colunas sabe que há décadas eu insisto no declínio
na qualidade do ser humano em sociedade. Especialmente no Brasil, país que
parece caminhar ladeira abaixo no campo das relações humanas.
Felizmente alguém filmou e mostrou uma imagem que retrata o que vem
acontecendo em uma sociedade desacostumada a respeitar uma autoridade. O garoto
ficou por cerca de seis minutos atiçando dois felinos de grande porte,
conhecidos por qualquer ser vivente como predadores. Até as pedras sabem que
esses animais se alimentam de outros animais desde que o mundo é mundo.
Imediatamente após a divulgação das imagens começaram os julgamentos,
principalmente os do “contra” e “a favor”, seja do tigre, do garoto, do pai, do
zoológico, de Deus etc. No atual modus operandi social de palpitar sobre tudo
houve a esperada distribuição de culpa para todos os envolvidos, alguns até
tentando amenizar o lado do garoto sob a alegação de que era “incapaz” de
avaliar os riscos. Será? Com 11 anos você não sabe a diferença de um gato para
um tigre?
Deixando um pouco o tigre de lado, vamos lembrar um pouco das histórias
da Bíblia. Sem a menor conotação católico-cristã, mas apenas como exemplo.
Muita gente atribui o pecado original ao sexo, fazendo uma analogia direta da mordida
na maçã com rala e rola entre Adão e Eva. Mas Deus não poderia castigar pelo
sexo, senão inviabilizaria a reprodução humana e jogaria por terra o famoso
“crescei e multiplicai”.
O pecado original que condenou Eva e seu amasio ao mundo terreno foi a
DESOBEDIÊNCIA. Deus deixou bem claro: não coma a fruta dessa árvore! E quando
virou as costas lá foi ela e nhoc! Não tinha uma placa na macieira do tipo
“fique longe, não coma”. Por trás da desobediência está o conceito que quero
chegar: o desrespeito!
Voltando ao zoológico, qual o padrão de comportamento dos visitantes:
enfiar o braço na jaula ou manter-se afastado? Se uma criança violou o padrão é
preciso olhar para esse caso isolado e tentar entender melhor de onde vem o
comportamento tão prepotente.
Hoje em dia existe uma enorme confusão aqui em terras brasileiras com
relação à educação. Também já escrevi sobre isso. E é um tal de pais entregarem
seus filhos às escolas na crença cega de que o pimpolho sairá de lá um lorde
inglês e com conhecimento de filósofo alemão. Mas em casa o filho faz o que
quer, passa o dia no videogame, desobedece os pais e eventualmente despreza a
autoridade dos empregados.
Educação é aquele conjunto de regras transmitidos de pais para filhos
como uma carga genética. O que a escola transmite é conhecimento. Portanto,
escola não educa, quem educa é o convívio familiar. Já defendi mais de um
milhão de vezes a mudança do nome de ministério da Educação para ministério do
Ensino.
Pergunto, que tipo de pai pode gerar um filho tão incapaz de entender a
regra mais elementar, bíblica e basilar da educação que é a obediência? Que
tipo de exemplo esse garoto tem em casa para ignorar tão descaradamente os
perigos que envolvem o enfrentamento de um animal feroz? Uma criança que atiça
descaradamente um animal selvagem como o tigre respeita seus professores?
Obedece seus pais?
É o reflexo da falta de cuidado na educação, não da escola, mas aquela
da formação do caráter. Quem enfrenta um tigre não é corajoso – como escreveram
alguns – ou simplesmente desobediente?
Chamou-me a atenção o comentário de vários jornalistas que reforçaram o
fato de no momento do acidente não ter nenhum vigia, embora o zoológico tenha
se defendido alegando que a área é monitorada por quatro fiscais.
Ora, jornalistas são pessoas esclarecidas, viajam e normalmente voltam
do exterior sempre com uma história de civilidade na ponta da língua. Ficam
impressionados que nos museus americanos o visitante deposita o valor em uma
caixa que fica ali, ao alcance de qualquer um, mas ninguém pega. Contam –
impressionados – que na Áustria as padarias deixam o leite fora e as pessoas
pegam e depositam as moedas em um pote, sem ninguém vigiando.
Mas cobram o fato de naquele local do zoo não haver um vigilante. É ISTO
que quero chamar a atenção: educação não é um comportamento expresso diante de
fiscalização, o nome disso é obediência. Educação é o comportamento do
indivíduo quando não tem NINGUÉM olhando!
Por isso a Prefeitura de SP instalou mais uma centena de radares e
câmeras de vigilância, porque o motorista só consegue se manter educado sob
constante fiscalização. Porque não foi educado. Os motoristas/motociclistas mal
e porcamente foram instruídos, quando foram… E os ciclistas nem isso!
Pela ótica do jornalismo sensacionalista podemos perder a esperança em
trânsito solidário sem que haja uma fiscalização opressiva e constante, como no
zoológico. Não basta uma placa de proibido estacionar, precisa ter um fiscal.
Não basta investir em passarela ou ciclovia, tem de fiscalizar. Não basta
avisar que o leão é bravo, precisa colocar o braço lá dentro!
http://www.norters.com.br/
Pela ótica do jornalismo sensacionalista podemos perder a esperança em
trânsito solidário sem que haja uma fiscalização opressiva e constante, como no
zoológico. Não basta uma placa de proibido estacionar, precisa ter um fiscal.
Não basta investir em passarela ou ciclovia, tem de fiscalizar. Não basta
avisar que o leão é bravo, precisa colocar o braço lá dentro!