domingo, 23 de julho de 2017

*As amizades do Facebook* Por Iuri Patias

Quantos amigos você têm? Já se questionou? Já lhe passou pela cabeça? O que é um amigo?
Foi depois de algumas de minhas leituras sociológicas (pelas quais tenho paixão desenfreada) que passei a me reconhecer melhor enquanto pessoa, motivo pelo qual me fiz pesados e difíceis questionamentos, como os que ilustram a introdução deste texto.

Meu Facebook é sutil ao afirmar que possuo “650 amigos”. É que, aqui, nesta rede social, cada contato adicionado ao seu perfil é referido como alguém que detém algum vínculo de amizade contigo.
Oras, no meu caso, são 650 pessoas que, em tese, deveriam manter -tido como base a noção etimológica da palavra amigo- um relacionamento de afeto, respeito e consideração. Para além de todas as demais características que compõem uma amizade. Certo? Errado!

É quase matemática. Façamos um jogo mental simples. Você não está se sentindo bem no dia de hoje. Você precisa conversar com alguém. Precisa sair, esvair a cabeça. Agora, questione-se: quem chamar? Quais dessas centenas (ou em alguns casos milhares) de “amigos” do Facebook estariam dispostos a lhe apoiar hoje? Verdadeiramente, quem atenderia ao seu chamado?
Me recordo que durante a época do saudoso Orkut, era habitual as pessoas se gabarem por ter atingido o limite máximo de “amigos” em seus perfis. Era basicamente uma competição para provar (não sei pra quem) quem seria a pessoa mais popular. Como se fosse um jogo. O início da liquidez que escorria entre os dedos.

Não é novidade que uma rede social é, de toda forma, um ambiente mantido e desenvolvido para enaltecer nosso narcisismo. Textos, imagens, vídeos... Estamos nos expondo, incessantemente. Nosso público? Nossos “amigos”, é claro. E o caminho é de duas vias! Interação mútua ou contrato rescendido. É realmente um jogo. Entristecedor!

A sociedade da aprovação. A pós-modernidade das “curtidas”, dos "likes". O século do reconhecimento. O Facebook adoça tudo isso. É a maior representação da noção de sepulcro caiado que eu poderia pensar neste momento. Lamentavelmente no eixo de nossas relações.
É amedrontador pensar que com um simples “clique” fazemos “amizades”, e com outro, desfazemos. Nos conectamos e nos desconectamos de pessoas com a mesma facilidade com a que apagamos um fósforo. Não é pra ser sólido, é só para existir, e depois evaporar. É consumível!

Estas conexões são genéricas, frágeis. Elas não constituem laços, e sim acordos. Seu propósito é nebuloso, quase invisível. Não são amigos, não todos, são, no máximo, contatos, colegas, conhecidos...
Mil? Dois mil? Três mil “amigos”? É realmente possível? Por que você permite que tantas pessoas tenham acesso às suas particularidades? Por qual motivo você os chama de amigos? Qual seu objetivo com isso?

Subjetividade por subjetividade, encerro com uma fala genial de Bauman, disse ele: “Um viciado em Facebook se gabou para mim, dizendo que ele havia feito 500 amigos num dia. Minha resposta foi que eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos, então presumidamente, quando ele fala “amigo” e quando eu falo “amigo” nós não estamos querendo dizer a mesma coisa”.
Vive-se cada vez mais para os "amigos". Vive-se cada vez menos...


** Iuri Patias é Colunista na empresa Diário de Santa Maria-Trabalhou como Assessor de Imprensa na empresa Ministério Público do Rio Grande do Sul
Estudou na instituição de ensino Jornalismo - Unifra





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