sábado, 24 de novembro de 2012

Ocupai e subjugai a terra...



A espécie humana parece ter-se inspirado na Bíblia para objetificar a Natureza. No Gênesis, Deus teria dito: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra.” Ou “... ocupai e subjugai a terra, dominai sobre os peixes, sobre os pássaros e sobre todos os animais...”. Nessa visão teológica, o homem domina, subjuga. E se pode fazê-lo com relação aos animais, por que não em relação ao semelhante?

Associado a isso, também contribuiu para a degradação ambiental o antropocentrismo, doutrina finalística que admite que todas as coisas foram criadas por Deus para propiciar a vida humana, que considera o homem como centro ou a medida do Universo, sendo-lhe, por isso, destinadas todas as coisas.

O racionalismo cartesiano e o mecanicismo newtoniano, por sua vez, ofereceram uma concepção de natureza como mecanismo. Dentro de um esquema mecânico, o todo é composto por partes e, conhecendo-se as partes, o todo seria também conhecido. Sobre essa visão reducionista, analítica, fragmentadora, afirma Fritjof Capra: “A divisão entre espírito e matéria levou à concepção do Universo como um sistema mecânico que consiste em objetos separados, os quais, por sua vez, foram reduzidos a seus componentes materiais fundamentais. Essa concepção cartesiana da natureza foi, além disso, estendida aos organismos vivos, consideradas máquinas construídas, de peças separadas.” (“O Ponto de Mutação”, tópico I, Crise e Transformação).

A revolução científica e industrial acarretou o crescimento desordenado dos núcleos urbanos com a migração de contingentes populacionais com o consequente agravamento de problemas sanitários. A produção industrial gerou o acúmulo de riquezas nas mãos de poucos e a sede pelo lucro multiplicou a devastação de recursos naturais empregados como insumos na elaboração de uma gama inesgotável de novos e mais sofisticados produtos. Houve o recalque dos saberes locais, sustentáveis, sabedorias, tradições, no afã pelo novo tecnológico com desprezo pelo antigo. A educação tornou-se objetificadora, legitimando o paradigma industrial capitalista, na busca da formação de mão-de-obra para o mercado.

A poluição do ar, do solo e da água tem nas indústrias e no uso de seus produtos, a sua maior fonte geradora. O consumismo exacerbado é outra poderosa fonte de agressão ao meio ambiente. Em nome do conforto da civilização e do avanço tecnológico, a cada dia novos produtos são lançados no mercado, necessitando serem vendidos, para tanto buscando seduzir potenciais compradores, por sua vez, sempre ávidos por novidades muitas vezes inacessíveis às suas posses. Uma espiral avassaladora produzindo frustrações e infelicidade, de um lado, e desperdício e depredação de outro. Sem considerar os efeitos predatórios à natureza e à saúde, ocasionados pelo acúmulo de lixo gerado pelo ser humano.

Como ser inteligente, o homem age sobre a Natureza e se sujeita, com isso, às consequências dos seus atos geradores de destruição e morte. Reconhecendo-se um ser superior da Criação, o homem tem adotado uma postura arrogante e predatória em relação à Natureza. Embevecido com o avanço científico e com a riqueza gerada pela revolução industrial, desenvolveu uma crença cega no progresso e fundamentou sua felicidade num modelo de desenvolvimento que estimula a competição ao invés da solidariedade. 

Em nossa civilização o ser humano assumiu um papel de superioridade e excelência que o levou a adotar um comportamento arrogante e exploratório em relação ao seu semelhante e à Natureza.

Elizabet Sahtouris, ao desenvolver a hipótese Gaia no seu livro “Do Caos ao Cosmos” (Ed. Interação, São Paulo, 1991), afirma que “paradoxalmente, a separação da natureza que nos impusemos pela visão mecanicista e “objetiva” do mundo conduziu-nos, nos últimos milênios, ao conhecimento científico que possibilitou entender e reintegrar-nos na auto-organização da natureza”. A Hipótese Gaia, já considerada uma teoria científica, foi desenvolvida no final dos anos 60 pelo cientista inglês James Lovelock e pela bióloga norte-americana Lynn Margulis. Ela sustenta que o planeta Terra é, na verdade, um grande organismo, um ser vivo, único e autorregulável. Segundo essa visão, a consciência está presente em toda a matéria. Várias tradições esotéricas vêm a Terra de modo semelhante. Rosacruzes, teosofistas e antroposofistas atribuem ao planeta um corpo etérico, campo de energias vegetativas e da fertilidade; um corpo astral, com o qual ela sente e experimenta; e um corpo mental, onde se manifesta a “inteligência planetária”.

Na visão budista, tudo contém ou é interpenetrado por todas as demais coisas. Helena Blavatsky, fundadora da Teosofia, diz que cada um de nós se inter-relaciona com a totalidade das coisas, contendo-as em sua essência. Diz o chefe Seattle, cacique dos Duwamish, em seu discurso ao governador do território de Washington, Isaac Stevens, a propósito da compra de suas terras, em 1856: “A Terra não pertence ao homem. É o homem que pertence à Terra. Disto temos certeza. Tudo está relacionado entre si. O que fere a Terra fere também os filhos e filhas da Terra. Não foi o homem que teceu a trama da vida: ele é meramente um fio da mesma. Tudo o que fizer à trama, a si mesmo fará.”

Em toda a natureza podem ser encontrados níveis de organização, nos quais seres maiores são constituídos de seres progressivamente menores, com todos os níveis interpenetrando-se e relacionando-se de todas as formas possíveis, vinculados em um todo integrado. Este conceito de interpenetração, de conexão universal, encontrado na religião oriental e na filosofia esotérica, tem repercussões na perspectiva moderna denominada holismo. Essa ideia é sintetizada, na Doutrina Espírita, na seguinte frase extraída da questão 540, de “O Livro dos Espíritos”, escrita em 1857: “É assim que tudo serve, que tudo se encadeia na Natureza, desde o átomo primitivo, até o arcanjo, que também começou por ser átomo. Admirável lei de harmonia, que o vosso acanhado espírito ainda não pode apreender em seu conjunto”. 

O holismo não é uma teoria bem definida, mas constitui uma visão unificada, em níveis variados, que integra harmoniosamente muitas colocações centrais em uma visão global de unidade. Enfatiza a interdependência e natureza dinâmica dos sistemas, e aponta para paralelos, conexões e unidades subjacentes.

A partir dessa perspectiva, vemos toda a natureza consistindo de todos que se interligam. Um organismo — uma árvore, ou camundongo ou pessoa — consiste de estruturas complexas que são constituídas por unidades completas. Os átomos de qualquer corpo são integrais, coerentes, independentes até certo grau. Unem-se para compor moléculas, por sua vez também completas e integrais. Estas se organizam nas organelas (corpos microscópicos dentro das células), que por sua vez organizam-se em células, as células em tecidos, depois órgãos, depois os sistemas que compõem o organismo biológico. Cada nível dos todos é constituído por todos os menores e, ao mesmo tempo, serve como parte de todos os maiores. Elas compõem níveis, desde o simples ao altamente complexo, estando cada nível conectado e inter-relacionado com todos os demais níveis, compondo estruturas de níveis múltiplos, sistemas dentro de sistemas. 

Esse processo de progressiva integração não para no nível biológico. Organismos fazem parte de um todo social; as coisas vivas pertencem a famílias, comunidades, populações. Os seres humanos e outros animais sociais compõem grupos organizados – colônias, escolas, organizações comerciais, comunidades de todos os tamanhos e espécies. Teilhard de Chardin, paleontólogo jesuíta, estava profundamente convencido tanto pela ciência como pela filosofia de que o universo é um todo, algo inteiro. Vislumbrou-o como uma espécie de átomo gigante que não pode ser fracionado: “Quanto mais distante e profundamente penetramos a matéria, através de métodos progressivamente mais poderosos, mais somos confundidos pela interdependência de suas partes. Cada elemento do cosmos foi positivamente tecido por todos os demais... É impossível cortar esta teia para isolar uma parte sem que ela fique desemaranhada e rasgada em todas as suas extremidades.”

Esta visão da realidade é fundamental para a formação de uma consciência ecológica e embasamento para a Educação Ambiental.

Fonte:http://viasantos.com

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