Durante o solstício de inverno na Roma pagã, período que abrange os dias 17
a 23 de dezembro, celebravam-se as Saturnais, também denominadas como as “festas dos escravos”, em razão de ser-lhes concedidas
oportunidades de prazeres, aumento da quota de alimentos, diminuição dos trabalhos a que se encontravam submetidos
especialmente nos campos.
Homenageando-se o deus Saturno, os participantes entregavam- se aos mais
diversos abusos, especialmente na área da sensualidade, da falta de
compromissos morais, assemelhando- se às bacanais...
Quando o Cristianismo primitivo passou a dominar as mentes e os corações do
Império, aqueles afeiçoados a Jesus, desejando apagar a nódoa moral
que vinha do paganismo e permanecia atormentando a cultura vigente,
transferiram a data do Seu nascimento para aquele período, aproximadamente,
destacando-se o dia 25 para as celebrações festivas.
Havendo nascido o Mestre de Nazaré entre 6 e 8 de abril, segundo os mais
precisos cálculos dos estudiosos do Cristianismo contemporâneo, o alto
significado da ocorrência, pensavam então, teria força suficiente para apagar as
lembranças dos abusos praticados até aquela ocasião.
O ser humano, nada obstante, mais facilmente vinculado às paixões
primitivas, lentamente foi transformando a data evocativa da estrebaria de
palha que se transformou numa constelação de estrelas, a fim de dar expansão aos sentimentos desequilibrados, assim
atendendo às necessidades das fugas psicológicas, em culto externo de fantasia e de prazer.
Posteriormente, São Francisco de Assis, símile de Jesus pelo seu inefável
amor e entrega total da vida, desejou recompor a ocorrência natalina, e realizou o seu primeiro presépio, a fim de que o mundanismo não
destruísse a simpleza da ocorrência, apresentando o evento sublime na forma
ingênua das suas emoções.
Durante alguns séculos preservou- se a evocação do berço dentro das
modestas concepções do Cantor de Deus.
À medida que a cultura espraiou- se e as modernas técnicas de comunicação
ampliaram os horizontes das informações, as doutrinas de mercado, assinaladas pelas ambições de compras e vendas, de
extravagâncias e de presentes, de sedução pelo exterior em detrimento do
significado interno dos valores, propôs novos paradigmas para as comemorações do Natal.
Na atualidade aturdida dos sentimentos, a figura de Jesus lentamente
desaparece da paisagem do Seu nascimento, substituída pelo simpático e
gorducho velhinho do norte europeu, Papai Noel, e o seu trenó entulhado de
brinquedos para as crianças e os adultos que se entregam totalmente à
alucinação festiva, distante da mensagem real do Nascimento.
Atualizando-se no Ocidente e, praticamente no mundo todo, as doces lendas
sobre São Nicolau, eis que também a árvore colorida vem substituindo o
presépio humilde nascido na Úmbria, e outro tipo de saturnália toma conta da
sociedade, agora denominada cristã...
Matança de animais, excesso de bebidas alcóolicas, festas exageradas,
extravagâncias de todo porte, troca de presentes, abuso de promessas e ânsia de prazeres tomam lugar nas evocações anuais, com um quase total
esquecimento do Aniversariante.
A preocupação com a aparência, os jogos dominantes dos relacionamentos
sociais e o exibicionismo em torno dos valores externos aturdem os indivíduos que se atiram à luxúria e ao desperdício, tendo como pretexto
Jesus, de maneira idêntica ao culto oferecido a Saturno.
Propositalmente, os adversários da ética-moral proposta pelo Mestre
procuram apagar a Sua lembrança nas mentes e nos corações, em tentativas
covardes e contínuas de O transformar em mais um mito que se perde na escura noite
do inconsciente coletivo da Humanidade.
Distraídos em torno da ocorrência perversa, pastores e guias do rebanho
confundido deixam-se, também, arrastar pela corrente da banalidade,
engrossando as fileiras dos celebradores do prazer e da anarquia.
É certo que Jesus não necessita de que se Lhe celebrem as datas de
nascimento nem de morte, mas deseja que se vivam as lições de que se fez o Mensageiro por excelência, propondo novos conceitos
e comportamentos em torno da felicidade e da responsabilidade existencial, tendo em vista a imortalidade na qual todos nos encontramos mergulhados.
Nada obstante, é de causar preocupação o desvio, a inversão de valores que
se observam nas evocações festivas e na conduta dos celebradores,muito mais
preocupados com o gozo e o despautério do que com os conteúdos memoráveis dos
ensinamentos por Ele preconizados e vividos.
Por compreender as fraquezas morais do ser humano, Jesus entendia, desde
então, tais ocorrências que hoje acontecem, as adulterações que se produziram nos Seus ensinamentos, e diante da indiferença que
tomaria conta daqueles que O deveriam testemunhar, foi peremptório ao
afirmar: – Quando eles [os seus discípulos] se calarem as pedras falarão...
[Lucas, 19:40.]
Concretizou-se o Seu enunciado profético, porque, nestes dias tumultuosos,
nos quais não se dispõe de tempo, senão para alguns deveres de trabalho
que proporcione compensações imediatas, o silêncio das sepulturas
quebrou-se e as vozes da imortalidade em grande concerto vêm proclamar e
restaurar a mensagem de vida imperecível,despertando os adormecidos para a lucidez e a atualização da conduta nos
padrões elevados do Bem.
Não mais os intérpretes que adaptam os ensinamentos às suas próprias
necessidades, distantes do compromisso com a Verdade; que se deixam dominar por excessos de zelos desnecessários, transferindo os
seus conflitos para os comportamentos que os demais devem vivenciar; que se refugiam nos arraiais da fé, não por sentimentos
elevados, mas procurando ocultar os conflitos nos quais estertoram...
As vozes dos Céus, destituídas dos ornamentos materiais e das falsas
necessidades do convívio social, instauram a Nova Era, trabalhando pelo ressurgimento das lições inconfundíveis do Amor, conforme Ele as
enunciou e as viveu até o holocausto final...
O Seu Natal é um momento de reflexão, convidando as criaturas humanas a
considerarem a Sua renúncia, deixando, por momentos,o sólio do Altíssimo para percorrer os caminhos ásperos da sociedade
daquele tempo, amando infatigavelmente e ensinando com paciência incomum, de modo a instalar na rocha dos corações os
alicerces do Reino de Deus que nunca serão demolidos.
Assim sendo, embora a inversão de valores em torno de Jesus e de Sua
doutrina, que se observa nas leiras do Cristianismo nas suas mais variadas denominações, nenhuma
força provinda da insensatez conseguirá diminuir a
intensidade de que se revestem, por serem os caminhos únicos e de segurança
para que a criatura, individualmente, e a sociedade, em conjunto, alcancem a plenitude a que aspiram mesmo sem o saber.
Vianna de Carvalho (espírito)
(Página psicografada pelo médium Divaldo Pereira Franco, na manhã do dia 17
de novembro de 2008, na cidade do Porto, Portugal.)
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